Dados do Trabalho


Título

Intoxicação por mercúrio no estado de Roraima, 2007 a 2022

Introdução

A mineração de ouro em pequena escala, o garimpo, é uma ameaça visível e crescente para os territórios e povos indígenas, tendo crescido quase 500% nos últimos 12 anos. A Terra Indígena Yanomami (TIY) está em estado de emergência devido à crise humanitária como consequência direta do garimpo ilegal de ouro, exercido por mais de 20 mil garimpeiros que invadiram o território. Entre 2016 e 2020, o garimpo no TIY aumentou 3.350%. Em 2023, a Polícia Federal realizou uma perícia sobre a contaminação por mercúrio em residentes de 14 regiões diferentes da TIY por meio de amostras de cabelo de 43 indígenas na Casa de Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista-RR. Segundo o estudo, 76,7% das pessoas abordadas vivem sob alta exposição do elemento, de 2 a 10 microgramas a cada grama de cabelo (µg em g), acima do aceitável da Organização Mundial da Saúde de 1 µg/g.

Objetivo (s)

Descrever os casos de intoxicação exógena por mercúrio no estado de Roraima no período de 2007 a 2022.

Material e Métodos

Estudo descritivo e retrospectivo. Os dados foram levantados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). As variáveis do estudo foram: faixa etária e tipo de exposição. Foi realizada uma análise descritiva da frequência absoluta e percentual.

Resultados e Conclusão

No período estudado, foram notificados 107 casos de intoxicação exógena por mercúrio, 104 (97,2%) casos no ano de 2016 e três (2,8%) casos em 2018, todos no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami. Os casos de 2016 (n=104), foram por Azougue/Mercúrio, notificados em 21/11/2016. Destes 73 (70,2%), foram notificados na Unidade Básica de Saúde (UBS) Pólo Base Maloca Paapiú, município de Iracema-RR, e 31 (29,8%) casos pela UBS Waikas, município de Alto Alegre-RR. Do total, 103 (99,0%) eram indígenas e um caso, ignorado; 21,2% (n=22) ocorreram na faixa etária de 0 a 4 anos, 25% (n=26) de 5 a 9 anos, 21,1% (n=22) de 10 a 19 anos, 12,5% de 20 a 29 anos (n=13) e 20,2% (n=21) de 30 a 59 anos; 95,2% (n=99) de exposição crônica. Em 2018, os três casos de intoxicação exógena foram com exposição crônica, 66,7% (n=2) por mercúrio (Azougue) e 33,3% (n=1) por pilha - No Brasil, há presença de mercúrio, 0,025%-1%, nas pilhas alcalinas e não alcalinas -. Os dados de 2016 sugerem um surto de fonte comum e a cronicidade dos casos notificados é preocupante pois os efeitos danosos do mercúrio sobre a saúde humana podem impactar diferentes órgãos e sistemas do organismo.

Palavras-chave

Estado de Roraima; Garimpo; Intoxicação exógena; Mercúrio; Yanomami

Agradecimentos

Área

Eixo 01 | Ambiente e saúde

Autores

Maria Soledade Garcia Benedetti, Emerson Ricardo Sousa Capistrano, Bruna Benedetti Valário, Marlídia Ferreira Lopes, Vanessa Silva Barros