Dados do Trabalho

Título

Diferenciais clínicos, assistenciais e diagnósticos associados ao óbito por leishmaniose visceral em crianças brasileiras

Introdução

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença sistêmica potencialmente fatal, sobretudo entre crianças na primeira infância. No Brasil, a letalidade da LV é variável entre as macrorregiões. Contudo, poucas abordagens consideram os fatores adjacentes a essas divergências.

Objetivo (s)

Este trabalho comparou os preditores de óbito por LV entre crianças de 0-4 anos das diferentes macrorregiões do Brasil.

Material e Métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo e transversal com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação relacionados ao momento de suspeição, notificação e evolução do caso. Foram incluídos casos novos de LV notificados de 2007 a 2020 em crianças de 0-4 anos com evolução conhecida. O desfecho fatal por LV em cada macrorregião (Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste/Sul) foi modelado por regressão logística múltipla em função de preditores demográficos, clínicos, assistenciais e diagnósticos.

Resultados e Conclusão

Foram notificados 10.734 casos de LV entre crianças de 0-4 anos, dos quais 6,3% evoluíram para óbito. A maior e a menor letalidade foram observadas no Nordeste (7,7%) e Sudeste/Sul (4,2%), respectivamente. Os fatores associados ao óbito na região Norte foram: deslocamento do município de residência para notificação do caso (OR:2,6; IC95%:1,9-3,7), hemorragia (OR:2,5; IC95%:1,3-4,7), hepatomegalia (OR:1,8; IC95%:1,2-2,7), infecções secundárias (OR:1,5; IC95%:1,1-2,3) e edema (OR:1,5; IC95%:1,1-2,2). Na região Nordeste os preditores foram: hemorragia (OR:5,6; IC95%:4,3-7,3), edema (OR:2,6; IC95%:2,1-3,3), deslocamento para notificação (OR:1,8; IC95%:1,5-2,3), icterícia (OR:1,5; IC95%:1,2-2,0) e infecções secundárias (OR:1,4; IC95%:1,1-1,7). Na região Sudeste/Sul, hemorragia (OR:5,4; IC95%:3,1-9,3), edema (OR:2,6; IC95%:1,6-4,2) e icterícia (OR:2,1; IC95%:1,2-3,6) associaram-se ao óbito. Já na região Centro-Oeste, os preditores foram: icterícia (OR:4,3; IC95%:2,1-8,6), hemorragia (OR:3,7; IC95%:1,5-8,9), deslocamento para notificação (OR:2,7; IC95%:1,3-5,3) e edema (OR:2,5; IC95%:1,2-5,1). A evolução fatal associou-se a manifestações clínicas típicas de doença avançada em todas as macrorregiões. Contudo, no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, onde usualmente observam-se maiores distâncias intermunicipais e coberturas assistenciais mais deficitárias, o deslocamento do município de residência para a notificação também foi preditor do óbito. Isso sugere que diferenças na estrutura assistencial podem explicar as discrepâncias na letalidade de LV no Brasil.

Palavras-chave

Calazar. Epidemiologia. Letalidade.

Agradecimentos

UFR