Dados do Trabalho


Título

Hanseníase para além da lesão de pele: relato de caso de um paciente peregrino e a sua dor invisível

Objetivos(s)

Descrever o eritema nodoso necrotizante hansênico (nENH) como sinal clínico reacional tardio grave de hanseníase dimorfa virchowiana em idoso e alertar a comunidade médica para a importância do diagnóstico precoce dessa doença negligenciada que causa sequelas motoras e sociais.

Relato do Caso

Idoso com 64 anos, natural e procedente de Natal-RN, foi admitido em hospital de referência em doenças infecciosas com três anos de um exuberante quadro de difusas lesões foveolares com bordos externos infiltrados distribuídas em tronco e dorso, testes de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil alterados, comprometimento assimétrico de nervos ulnares, tibiais posteriores, poplíteos e dorso cutâneos, todos com intensas dores que o impossibilitavam de dormir há meses, além de xerodermia, disautonomia, atrofia muscular, garras nos dedos e grau 2 de incapacidade física. Verificavam-se lesões necróticas sob nódulos em região fronto-parietal do crânio e no dorso, iniciadas duas semanas antes da admissão. Além das incontáveis consultas médicas, nunca havia sido aventada a hipótese de hanseníase. A média dos índices baciloscópicos da linfa e das lesões demonstrou carga bacilar de 3. Foram prescritos a poliquimioterapia para hanseníase, 400mg/dia de talidomida para a reação hansênica tipo II e 60mg/dia de prednisona para a neurite hansênica, além de pregabalina para dor neuropática e fisioterapia motora. O paciente recebeu alta hospitalar após 15 dias de internação, para seguimento clínico ambulatorial e manejo das incapacidades físicas.

Conclusão

O nENH é uma reação vasculonecrótica que ocorre em pacientes com hanseníase virchowiana ou dimorfa. Trata-se de doença grave, que, como o fenômeno de Lúcio, leva a complicações infecciosas e trombóticas com risco de morte. O desafio que cerca a hanseníase é um sinal da nossa inabilidade clínica e diagnóstica, que envolve, para além da complexidade de apresentações clínicas, o preconceito e o desconhecimento social e histórico sobre a doença. A cronicidade da doença causa sequelas motoras e sociais que, não raro, não encontram reabilitação específica na sociedade. O paciente peregrinou por três anos sem diagnóstico, mesmo com o agravante da exuberância da doença, do estado reacional e das dores neuropáticas. Evidencia-se ironicamente portanto, a necessidade de se pensar na hanseníase como uma doença que apesar de ter sido descrita há mais de 4 mil anos segue invisível para todas as dimensões da saúde.

Área

Eixo 13 | Tuberculose e Outras Micobactérias

Categoria

NÃO desejo concorrer ao Prêmio Jovem Pesquisador

Autores

Raquel Holanda de Lima, Breno Vinícius Dias de Souza, Carolina Araújo Damásio Santos, Mirella Alves Cunha, Eveline Pipolo Milan, Andreia Ferreira Nery