Dados do Trabalho


Título

Existem preditores clínicos para o diagnóstico precoce de leishmaniose visceral na população que vive com HIV no Brasil? Evidências de uma coorte retrospectiva

Introdução

A co-infecção leishmaniose visceral (LV)/HIV é um tópico emergente e desafiador na saúde pública brasileira. Além de apresentarem mais recidivas e falhas terapêuticas, os pacientes que vivem com o HIV usualmente cursam com manifestações clínicas menos usuais da LV, o que pode atrasar o diagnóstico da doença. Tomados em conjunto, esses fatores corroboram a alta letalidade de LV nesse grupo. Assim, estudos que considerem a identificação precoce da doença em pacientes LV/HIV são de suma importância.

Objetivo (s)

Investigar a existência de manifestações clínicas iniciais da LV associadas ao diagnóstico precoce da doença na população vivendo com HIV no Brasil.

Material e Métodos

Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva. Dados sem inconsistências dos casos novos e recidivas de LV, notificados entre 2007 e 2020, em pacientes vivendo com HIV residentes no Brasil (n=3.903) foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Para cada indivíduo foi calculada a oportunidade diagnóstica de LV (isto é, o tempo entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico) assumindo-se a data de suspeição/notificação do caso como a data de diagnóstico. Para investigar a probabilidade do diagnóstico de LV ao longo do tempo, segundo as manifestações clínicas isoladas ou associadas, utilizou-se o estimador de Kaplan Meier. O teste de log-rank foi empregado para analisar diferenças entre os grupos considerando o tempo até o diagnóstico.

Resultados e Conclusão

A mediana da oportunidade diagnóstica de LV na população LV/HIV foi de 30 dias (mínimo-máximo: 0-729 dias). Foi observada uma maior oportunidade diagnóstica entre indivíduos que apresentavam no momento da suspeição clínica: esplenomegalia (p<0,001), hepatomegalia (p<0,001), palidez (p<0,001), emagrecimento (p<0,001), fraqueza (p<0,001), edema (p=0,018), evento hemorrágico (p<0,001), icterícia (p=0,007), febre associada à esplenomegalia (p<0,001), hepatomegalia associada à esplenomegalia (p<0,001), edema associado à hemorragia e icterícia (p=0,005). Não foi observada nenhuma manifestação clínica significativamente associada ao diagnóstico precoce de LV na coorte. Os resultados sugerem que a inespecificidade das manifestações clínicas da LV é um fator importante para o diagnóstico tardio da doença em pacientes que convivem com o HIV. Como parece não existir preditores clínicos para o diagnóstico precoce, faz-se essencial o monitoramento laboratorial cuidadoso da população coinfectada em áreas endêmicas de LV.

Palavras-chave

Calazar; Coinfecção pelo HIV; Diagnóstico

Agradecimentos

UFR

Área

Eixo 06 | Protozooses

Autores

Murilo Boiago Brino, Beatriz Dos Reis Vieira, Amanda Gabriela de Carvalho, João Gabriel Guimarães Luz